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Como podemos distinguir o luto normal do luto complicado?

  • Foto do escritor: Anderson Torres
    Anderson Torres
  • 9 de fev. de 2022
  • 4 min de leitura

Atualizado: 10 de fev. de 2022

Esse é um assunto polêmico, pois, como vocês já sabem, a vivência do luto é algo que muda de pessoa para pessoa, é algo muito particular, cada um vive este momento a seu modo, o que implica inúmeras variáveis. Apesar disso, estão surgindo cada vez mais estudos para compreender melhor o luto de uma maneira mais científica, visto que os conceitos tradicionais que existem não foram devidamente validados cientificamente. É fato que o luto, em si, não é uma experiência psiquicamente patológica, por mais que grande parte das pessoas a considerem dessa forma, isso não significa que ela não possa contribuir para que uma doença se instaure no indivíduo.


Segundo Lannen, Wolff, Prigerson, Onelov e Kreicbergs (2008) aponta que existem duas trajetórias possíveis para o luto. Uma delas se encaminha para a aceitação, enquanto que a outra vem sendo chamada de Transtorno do Luto Prolongado (TLP). Todas as pessoas passam por momentos de luto em suas vidas, é natural e esperado perder pessoas amadas e queridas durante a vida. O estudo de desses autores aponta que cerca de 80% das pessoas passam pelo processo de luto de uma maneira saudável, aceitando a perda ao longo do tempo, enquanto 20% não consegue.


Transtorno do Luto Prolongado

Os critérios para diagnóstico de Transtorno do Luto Prolongado são: a) A pessoa ter vivido a perda por morte de alguém que lhe era significativo e reagir com preocupação intrusiva com o morto (buscar, procurar, sentir saudades doloridas) e b) Os seguintes sintomas são marcantes e persistentes: evitação, falta de sentido no futuro, entorpecimento, choque, dificuldade em acreditar na morte, sensação de vazio, sem realização na ausência da pessoa, sente como parte de si tivesse morrido, sua visão de mundo perde em confiança, segurança, senso de controle, apresenta sintomas e/ou comportamentos de risco semelhantes aos do falecido, amargura.

Lannen, Wolff, Prigerson, Onelov e Kreicbergs (2008) identificaram em grupos que apresentaram TLP alguns sintomas comuns a essa condição: ideação suicida, depressão, ansiedade, piores condições de qualidade de vida, maior frequência de hospitalizações, transtorno de sono, elevação da pressão arterial, aumento na frequência do uso de cigarro, diminuição na produtividade, cuidados parentais, comportamento cuidador.


Os sintomas dessa condição são muito diferentes dos encontrados em outros transtornos estudados e citados no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), como a depressão maior. Nesses casos o tratamento com antidepressivos não surte efeito. Essas informações deixam evidente que o TLP é muito diferente dos outros transtornos psiquiátricos, devido aos sintomas serem muito particulares desta condição. É necessário que, se identificado como um possível transtorno este diagnóstico seja incluído na atualização do DSM como um novo transtorno, devido às particularidades de seus sintomas e suas consequências.

Já existem algumas propostas de sintomas e período necessários para que este transtorno seja diagnosticado. Todos eles precisam prejudicar, de maneira significativa, um ou mais ramos da vida da pessoa para que haja o diagnóstico, como problemas no relacionamento, na profissão, com a família, entre outros, e deve durar, pelo menos, seis meses. Algumas características da relação da pessoa enlutada com a pessoa que veio a falecer são recorrentes nos casos de pessoas que estão se encaminhando para um TLP, como casos de abuso físico, mental, ou outros nessa relação, negligência na infância, angústia de separação, dificuldade em lidar com a frustração, ou com a mudança, pouca compreensão e preparação para lidar com a morte estão entre elas (Lannen, Wolfe, Prigerson, Onelov, Kreicbergs, 2008).


Em outro estudo, Boelen e Prigerson (2007) mostraram, mais uma vez, que a TLP é diferente da depressão e da ansiedade. Esse fato torna necessário construir um diagnóstico diferenciado dos outros, já que o tratamento é diferente. A preocupação com os critérios de diagnóstico desta condição é importante na capacitação de profissionais psicólogos e psiquiatras no tratamento e acompanhamento destes casos. Além disso, contribui para a realização de pesquisas que busquem encontrar a prevalência, os fatores de risco, os resultados, a prevenção e o tratamento para esta condição.

Como vimos há ainda um longo caminho a ser percorrido no que diz respeito ao conhecimento em torno do luto e como podemos tratá-lo quando ele deixa de ser uma condição natural e esperada e passa a ser algo que prejudica consideravelmente a qualidade de vida do indivíduo. Se você está passando por um período muito longo de luto e sente que os sintomas estão lhe prejudicando mais do que você imaginaria ou gostaria, não deixe de procurar ajuda profissional.

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Referências:

BOELEN, P. A. e PRIGERSON, H.G. The influence of symptoms of prolonged grief disorder, depression, and anxiety on quality of life among bereaved adults. A prospective study European Archives of Psychiatry and Clinical Neuroscience 257:8 2007.

LANNEN, WOLFE, PRIGERSON, ONELOV, KREICBERGS. Unresolved Grief in a National Sample of Bereaved Parents: Impaired Mental and Physical Health 4 to 9 Years Later Journal of Clinical Oncology. Vol 26, No 36 (December 20), 2008: pp. 5870-5876 , 2008.


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