Luto na infância
- Anderson Torres
- 6 de jul. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 6 de set. de 2021
As crianças são as mais esquecidas na hora de falar de luto. O luto na infância implica perdas. Como adultos, precisamos ajudar as crianças a expressar suas emoções, e a verdade é que muitas vezes não estamos preparados para acompanhá-las neste processo.
As crianças reagem diante da perda, e o fazem de diferentes formas em função do momento evolutivo, de como recebem a notícia, da reação dos adultos, e das próprias experiências. O luto infantil, ou luto na infância, é um processo de reconstrução diante da morte, é um desafio emocional com o qual a criança precisa lidar (ABERASTURY, 1984).

Capacidade de entendimento para cada idade
Apesar da franqueza necessária para falar sobre morte, é preciso estar atento para usar a linguagem adequada, de acordo com a faixa etária. Até os três anos, as crianças percebem o fim da vida apenas como a ausência de uma pessoa. Depois, elas começam a assimilar a morte, mas ainda floreada pela imaginação infantil. A criança, especialmente com menos de seis anos de idade, possui maior dificuldade em compreender e aceitar a irreversibilidade da morte. Enfrentar a morte de quem se ama é um processo difícil em qualquer idade.
Inicialmente, ela associa o falecimento ao sono, ou a uma viagem, por exemplo. As crianças tendem a aceitar a realidade da morte em “doses”, permitindo a entrada de “um pouco” de dor e depois voltam a brincar. Esta dosagem não só é normal, mas também necessária para tornar os primeiros momentos do luto mais suportáveis.
Portanto, existem pontos relevantes a serem levados em conta na hora de um adulto contar a uma criança sobre a morte e o que ela implica. Por estar em desenvolvimento, ela é mais vulnerável. É importante usar uma linguagem simples, com termos claros e objetivos. Elas querem e merecem saber a verdade, mas não precisam de detalhes. Metáforas como “foi para o céu”, “está dormindo” ou ainda “virou estrelinha” apenas causam confusão e fazem surgir fantasias e dúvidas maiores.

Por isso, é preciso falar claramente e dar tempo para que haja compreensão. Também é importante responder aos questionamentos e respeitar seus limites e capacidades, sobretudo em ambientes carregados de emoções como no caso dos velórios. Aí cabe prover o amparo, além de explicar como será este “durante”, contando que o corpo da pessoa que morreu fica numa caixa especial, para que os familiares e amigos possam vê-la uma última vez.
Também é importante avisar que haverá pessoas chorando e que a pessoa no caixão não sente mais dor, frio ou qualquer desconforto. Após a explicação, é importante perguntar se é da vontade da criança ir ao velório e só levá-la em caso de resposta afirmativa. Não é legal obrigá-la a ir em hipótese alguma, tampouco negar o direito de participação. Posteriormente a criança também vai se deparar com sentimentos de luto, podendo apresentar agressividade, tristeza e raiva.
Lembre-se de oferecer compreensão. É importante reconhecer a expressão de qualquer emoção, fazendo sempre o melhor dentro do possível em cada momento, mesmo admitindo que a morte faz parte de um mistério da vida e que ninguém sabe exatamente o que acontece depois. É possível fazer uso das crenças familiares e reconhecer a existência de outras, exercitando assim a diversidade.
Você pode chorar junto da criança, mostrando que mesmo que sinta falta de quem partiu, há esperança de que a dor diminua e que existem formas de ficar um pouco melhor. Dar uma volta, ligar para um amigo, escrever um diário, desenhar... Crianças precisam de diferentes formas de expressão dos sentimentos. Quando alguém que amamos morre, vive em nós através das memórias.
É bom que a criança veja fotos, assista vídeos, relembrando o passado. Isso torna o futuro mais possível. Não tente tirar as memórias dela como uma tentativa, equivocada, de tirá-la da dor. Naturalmente questionamos o propósito e o significado da vida.
As crianças tendem a fazer o mesmo de forma simplificada através de perguntas como “Por que as pessoas morrem?”, “O que acontece depois que morrem?”. Não tente responder todas as perguntas sobre o significado da vida. Não tem problema – e talvez seja até melhor – admitir que você também se sente confuso com as mesmas questões (RONCATTO, 2019).
Dicas de se abordar o luto com uma Criança
Roda de conversa: Com isto pode-se ouvir e contar a experiência dele também diante do tema. É importante observar o que a criança vai falar. Caso não queira, observe o comportamento diante da atividade.
Desenho livre: Em uma folha em branco, a criança pode colocar cores e figuras que representam o que ela está sentindo no momento. Depois, os responsáveis podem acolher a criança, pedindo para explicar o desenho, fazendo lembrar de momentos bons vividos com quem ela sente saudade.
Plantio de sementes: Quando a criança planta e vê aquela planta crescendo, passa a entender as fases da vida da natureza. Os responsáveis podem aproveitar para dizer que o mesmo acontece com todos os seres vivos.
Brincadeiras e jogos: O lúdico pode trazer um efeito positivo diante do luto, fazendo com que aquela criança se distancie da dor por alguns instantes, e pode trazer a oportunidade de socializar, já que ela pode ter se isolado por causa da dor.
Filmes e histórias: Alguns desenhos da Disney, por exemplo, tratam do tema e ajudam a criança a entender esse processo. “O Rei Leão”, “Bambi”, O vale encantado dos dinossauros” retratam animais na fase da infância, que perderam o pai ou a mãe.
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